Alerta: Vinho português é na realidade vinho francês

Os próximos parágrafos contam algo que aconteceu, não são invenção. Fiquem com essa garantia.

São quatro exemplos de indicações contraditórias que fui tendo nos últimos anos, indicações sobre a personalidade do vinho português. Estou tentado a assumir que o vinho português é na realidade, vinho francês.

O exemplo da Bairrada, é autêntica ou imita?

Este exemplo saiu de uma prova de vinhos Luís Pato, conduzida pelo próprio.

Vinhos Bairrada suscitam sempre uma deriva nas conversas para os temas de tipicidade e autenticidade. Claro que este produtor falou do seu percurso a trabalhar e a promover a casta Baga, dentro e fora de portas, falou do que a Baga pode fazer e falou sobretudo do que a Bairrada pode fazer. E foi até bem longe, se bem me recordo comparou a Bairrada com Bordéus em três eixos, número de horas de sol, proximidade marítima e temperaturas. Concluía-se dali que a Bairrada podia competir com regiões que neste momento são mais que ela, regiões que só lhe levam duzentos anos de avanço.

Saí dali convencido de que a Bairrada poderia um dia fazer coisas especiais, ao nível dessas regiões, ao nível de Bordéus.

O problema é que não é bem assim, logo no dia seguinte vi gente que prova e fala de vinho, a comparar a Baga ao Pinot Noir… E no dia seguinte vi mais gente do vinho a comparar a Baga ao Nebbiolo. Fiquei desanimado, afinal, a Baga, a Bairrada, nunca poderiam ser mais do que umas cópias que tentam ser iguais aos originais.

A pior parte deste conceito disseminado por essa gente que vive a falar e a provar vinho é que, passou para os bairradinos. É comum encontrar na Bairrada gente a beber um Baga e a dizer: “Parece que estou a beber um grande Pinot!”

Um spot único

Mas a esperança reapareceu semanas mais tarde, numa prova de vinhos velhos houve um vinho que mostrou que há uma região no país que poderia fazer coisas para décadas, vinhos de nicho e de certa forma, para “coleccionadores”, daqueles vinhos que quanto mais difíceis são nos primeiros anos, mais se esticam pelo tempo. Essa região é pegada ao Douro mas não é Douro, pertence ao Minho mas muito pouco tem que ver com os vinhos verdes tintos minhotos. Essa região mostrou poder fazer daqueles vinhos que nos obrigam a tê-los como compras impreteríveis, de ano para ano. Eu vi, eu provei, eu estava lá e por ter ficado tão bem impressionado, fui lá depois, ao sítio deles, comprá-los. Aqui está algo inigualável pensei eu, e, guardei-os na minha cave.

Errado. Em conversa com alguém de quem gosto muito soube que um grupo de sommeliers estrangeiros certo dia discutiram se, aquele vinho que rouba qualquer coisa ao Douro e qualquer coisa ao Minho, era na verdade semelhante aos da margem esquerda do Loire, ou se, aos da margem direita do Loire. Voltei a ficar confuso e desanimado. Afinal, esta região “bipolar”, deixou de poder ter características únicas para passar a ser uma região imitação, mais uma cópia de uma região francesa que já tem aquelas características há muito.

O Marufo

Só que, uma vez mais, a esperança na singularidade de alguns vinhos portugueses reapareceu. Numa prova de vinhos Márcio Lopes, foi dado à prova um vinho novo no portefólio deste produtor, uma casta incomum para a maioria de nós, o Marufo. Este vinho estava bem interessante, efectivamente mostrava lugares novos e eu pensei que agora sim, poderia estar aqui o começo de algo e quem sabe, se não seria difícil repetir exactamente isto noutro lugar qualquer.

Errado. Errado. Nessa mesma prova, quinze segundos depois de provar o vinho, vi-o ser comparado a um vinho francês qualquer que eu nem percebi bem o nome porque o meu cérebro desligou com tanto desânimo. Uma vez mais, perdemos uma casta, uma região e uma expressão de terroir… Para os franceses.

Ficámos uma vez mais com uma cópia e o original está para lá dos Pirinéus. Fiquei aborrecido, outra vez.

Um spot ainda mais único

A esperança residia numa região que é única, singular e inigualável: Colares.

Colares prova ser única pelo tamanho que tem, Colares é a prova de que as coisas únicas são tão melhores quanto mais pequenas são. Depois de perceber que a Bairrada e outras regiões portuguesas são comprovadamente cópias de regiões francesas, Colares era a minha garantia de que, aquele “principadozinho vinícola tuga”, representa o último reduto dos vinhos portugueses autênticos e inigualáveis.

Errado. Como mostra a imagem acima, voltaram a comparar Colares com Bordéus.

Um Colares 1967 a ser comparado com um Bordéus. Até isto os franceses nos tiraram. Mas o pior de tudo é que, eles são grandes e podem fazer largos milhões de garrafas de Colares 1967… A Colares portuguesa, no máximo, fará meia dúzia de milhar.

Concluindo…

Eu já não sei que faça, já são anos nisto, anos nesta ambiguidade, sem sair do mesmo sítio. Numa semana jornalistas, críticos e sommeliers defendem com unhas e dentes a diferenciação de algumas regiões e vinhos portugueses, avisam que essa diferenciação deve ser cuidada, preservada, usada e promovida.

Mas na semana seguinte, vejo outros actores do vinho, a comparar a Baga, o Marufo, Colares, etc… A vinhos que falam francês e italiano. Não entendo. Porque não escolhem de uma vez por todas se devemos ser imitadores, ou ser autênticos. A sério, escolham uma, ou escolham outra.

Num dia fazemos vinhos mega autênticos e cheios de personalidade portuguesa. No dia seguinte, já fazemos autênticos borgonhas. Epá, decidam-se.

Acho que o síndroma da pequenez se manifesta de duas formas, ou assumimos sermos sempre os mais pequenos, o que em Portugal é normal, ou, relevamos o facto de um dia termos estado por momentos no campeonato dos grandes, algo que na verdade, bem analisado, também é muito português.

Pode haver quem diga que o síndroma da pequenez também é não conhecer coisas fora de Portugal. Na verdade isso é um bocado estúpido, mais uma vez é gente que quer relevar o facto de um dia ter estado por momentos no campeonato dos grandes.

Não façam é o consumidor andar a saltar entre uma coisa e a outra, esse discurso errático faz com que nunca se seja nada, e, o nada, não tem aspecto, nem tem cheiro, nem tem sabor.

Uma outra hipótese e para mim a mais plausível de todas é que, os franceses têm excesso de vinho e nós andamos a engarrafar o que lhes sobra, vendendo depois como sendo vinho tuga. Por isso é que tanta gente encontra características francesas nos vinhos portugueses. Esta para mim, é a explicação mais plausível de todas.

Inbestigue-se.


Saúde,
Dr. Ribeiro

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Prova

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