Por enquanto, existem alguns Aston Martin ao nosso alcance.
Caríssimos,
O produtor de alguns dos vinhos presentes na foto de capa deste artigo disse-me há algumas semanas atrás o seguinte: “os vinhos portugueses estão anos adiantados em relação ao perfil do consumidor português”. (Prof. Francisco Batel Marques – Quinta dos Abibes)
Alguns dias depois, um conhecido jornalista dizia algo deste género: “o romantismo dos vinhos acaba quando as contas chegam à porta da adega”. (João Paulo Martins – Revista Grandes Escolhas)
Estas duas frases são o ponto de partida para algo que tenho no pensamento há alguns dias… Há um espaço comum a estas duas ideias. É esse espaço que gostaria de explorar um pouco, um lugar onde vejo produtores que se mantêm fiéis a convicções que merecem destaque.
Todos os produtores lutam contra as contas à porta da adega, praticamente todos. Ainda assim, há produtores que, mesmo perante esta luta, querem “segurar” os seus vinhos até à altura certa de os meter no mercado, até ao momento em que atingem um estado expressivo capaz de ser um reflexo completo da sua vinha e da sua forma de trabalho. Escondem os vinhos à espera do ponto qualitativo ideal… Um ponto em que se sente que o carácter daqueles vinhos está realmente formado.
Há produtores que, face ao que têm vindo a fazer, lidam injusta e continuadamente com o pouco reconhecimento da maioria dos consumidores portugueses. Ainda assim, estes produtores seguram os seus vinhos em cave até à última, até ao ponto certo, mantendo o fio condutor de todo o seu projecto desde o primeiro dia, cedendo apenas nos detalhes que não comprometem em excesso a matriz que desenharam para os seus vinhos.
Seja perante desafios de gestão económica, seja perante falta de reconhecimento, existem ainda produtores que assumem este esforço.
Aquilo que mais me deixa agradecido para com “gente” com este tipo de ética é o sentimento de que vinhos como estes, o que são, o que representam para nós depois da prova, são afinal baratos demais para não serem conhecidos e entendidos no próprio país. Um destes produtores disse que a sua ambição é fazer vinhos como se faz um Aston Martin, diferentes entre si, especiais, únicos… Não restem dúvidas de que ele, e apenas alguns mais como ele, o têm feito.
A vossa ética, os vossos princípios e convicções aplicados até à saída das garrafas da vossa adega… Tudo isso termina nos nossos copos sob a forma de virtuosidade e carinho. Por enquanto, vinhos como os da foto são Aston Martin ainda ao nosso alcance.
Saúde,
Dr. Ribeiro