Rosés? Ainda não será este o ano deles…

Os títulos dos artigos dedicados ao iminente arranque do consumo de rosés em Portugal, de ano para ano, têm sido semelhantes aos inícios de cada época do Sporting: “Este ano é que é!”

(Desculpem a brincadeira, não é para ser levada muito a sério. Mas o texto é!)

Todos os anos se ouve este vaticínio: Rosés? Este é o ano deles! Este ano é que é!

Só que depois não é. Não tem sido.

Provavelmente saem mais artigos a anunciar a alvorada dos rosés, do que propriamente rosés com argumentos que façam a procura por estes vinhos descolar de uma vez por todas.

O consumo de rosés não descolou e parece não querer descolar. Assim sendo, temos um problema. Então, se temos um problema, vamos lá analisá-lo e encontrar uma solução, vamos lá todos pensar numa estratégia para se vender mais rosés.

Fácil, todos os produtores passam agora a dizer que têm um rosé ao estilo de Provence e a procura vai disparar!

Aposta-se no ajuste da cor, aposta-se na garrafa “catita”, diz-se que é um rosé muito bem conseguido e ao estilo de Provence e, de repente, toda a gente passa a consumir rosés. Só que não.

Os rosés são a imagem perfeita daquilo que no fundo são todos os vinhos portugueses. Os baratos são os mais procurados, fazem muita sangria de frutos vermelhos durante o verão. Os mais caros, são promovidos de acordo com quem mais paga por marketing e quem melhor os associa ao actual lifestyle.

Têm aparecido por aí alguns rosés enquadrados neste obectivo de venda suportado em lifestyle. Por vezes até nos tentam dizer que têm sido um sucesso. Mas se o sucesso é assim tão grande, porque é que não existem mais marcas a imitar esta iniciativa? Afinal de contas, se os portugueses imitaram os franceses e com sucesso, seria lógico outros portugueses imitarem esses portugueses que tiveram sucesso.

Não existem mais referências porque provavelmente esta estratégia não será sustentável. Fomos imitar algo de França para se vender a portugueses.

Quantos portugueses podem sustentar a produção de uma bebida à base de um fingimento de se estar na Provence a curtir o lifestyle? Se fossem assim tantos, os rosés seriam também cada vez mais… E não são.

Uma garagem contra um mundo de lifestyle

Pode um “artesão” fechado numa garagem, criar algo que se sobreponha à necessidade de fotografar status para o instagram? Pode um rosé afinado durante 10 anos vencer a necessidade de exibição de lifestyle que faz a maioria das pessoas comprar vinhos rosés?

Acho mesmo que pode. E é aqui que está magia dos vinhos. O que manda na criação de algo qualitativamente superior, não é a capacidade financeira de montar uma máquina de última geração que faça um vinho chegar a uma fórmula final projectada para o sucesso.

Da Quinta do Portal saiu um rosé que eu nunca tinha visto. Um “artesão” decidiu inventar e fazer o que nunca tinha sido feito… E o resultado foi espectacular.

Os bons vinhos precisam de boas vinhas e bons cérebros. O resto, os acessórios, lá se arranjam.

Deveríamos ter mais “Paulos Coutinhos” por esse país fora. Em vez de andarmos a dizer que fizemos uma coisa ao estilo de Provence, deveríamos andar por aí a dizer que fizemos em Portugal algo novo e que mais ninguém tinha feito. Creio que faria mais sentido.


Saúde,
Dr. Ribeiro

Photo Credits: Wine Enthusiast Magazine
Categorias: Artigos de Opinião

Prova

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