Uma leveza que pesa.
Caríssimos,
Uma moda que a meu ver tem tanto de irreverente como de desacertada. Vinhos leves, caros, de nicho… Dizem eles.
Eu continuo mais ou menos sem entender esta insistência em fazer vinhos leves, tintos fundamentalmente. Parece algo bastante forçado, descaracterizador. O preço é quase sempre o primeiro identificador da qualidade do que vamos ter no copo, não que esta particularidade seja regra, felizmente, mas se eu compro um vinho com PVP relativamente generoso obviamente não procuro simplicidade e leveza, quero ver complexidade, carácter, espírito desafiador, camadas para ler, riqueza, energia, profundidade.
Ouvi muitas vezes dizer que os vinhos robustos ao fim do primeiro copo se tornam enjoativos e chatos. Não… Acho mesmo que não. Acho que o contrário é que se torna chato, pagar bem por uma garrafa em que ao fim do primeiro copo ficamos com uma ideia de vinho simples, pouco abundante em detalhes.
Um grande vinho fica na memória, crava em nós os vários momentos em que nos esforçamos para lê-lo e consequentemente o que ele nos dá em troca, em forma de sensações únicas e memoráveis.
Um grande vinho é sempre a única possibilidade de tornar determinados momentos em torno de uma mesa, completos, absolutos.
Percebo que esta moda seja só para nicho, percebo que não se queira passar do nicho. Afinal de contas, esta leveza pode ser um brinquedo que entretém quem está disposto a tê-lo. Mas no final, nenhum destes vinhos consegue, a meu ver, fazer um ligação convincente entre o que custa e o que nos oferece em troca.
Saúde,
Dr. Ribeiro