Velho e Cunha, o maior vendedor de selos da sua C.V.R.
Na sexta-feira ouvi um jovem produtor falar de como decidiu vir com tudo para a sua luta, trouxe objectivos diferentes e abordagens diferentes, uma nova forma de pensar a própria região onde se instalou. Só que, nessa região, como em quase todas, está enraizada uma teia “cunho-politiqueira” dentro da CVR, que abafa quem pode e quer aparecer fora desta dinâmica velha e ultrapassada.
Até hoje o país não teve a capacidade de potenciar o pensamento mais fresco e por isso, o status quo que dura há quarenta anos vai durar mais quarenta.
O pensamento “velho” por vezes torna-se insuportável. Na sexta-feira, ouvi um “velho” questionar esse produtor “novo”, como se o “novo” não percebesse o legado dos “velhos”. Errado, o “novo” explicou que estudou tudo o que os avós e os vizinhos dos avós faziam na região, o “novo” usa esse conhecimento empírico como base para depois, a partir dele, evoluir, obviamente com ajuda de novo conhecimento científico. Mas o “velho” ainda assim questionou-o com insistência, como se o “novo” fosse um aventureiro que despreza os mais velhos. Terá sido o “novo” a desprezar os mais velhos, ou o “velho” a desprezar os mais novos?
É este tipo de abordagem “maçónica” que me faz, cada vez mais, ficar contente com o nome que escolhi para o blog. Ela representa um tipo de postura velha que não permite lugar ao debate, que à partida cria uma ideia de que, quem vem questionar o status quo, está errado. Não dizem porque se está errado, dizem somente que se está errado e acham-se no direito de nem explicar o porquê. Parece que o status quo não se questiona, parece que toda gente o deveria saber.
Provavelmente, esse pesamento velho foge do debate porque sabe que o vai perder e, então, considera que é melhor matar a discussão à nascença, usando aquela típica postura “arroganto-maçónica”.
O filme Bleed For This sintetiza na perfeição este tipo de arrogância quando uma repórter pergunta ao Vinny Pazienza, qual a maior mentira que já lhe tinham contado e ele responde: “Isso não é fácil”. A reporter sem perceber a resposta, pergunta novamente: “Mas não é fácil porquê? Desculpe, não percebi”. E o Vinny Pazienza responde outra vez: “A maior mentira de todas é essa! Quando nos dizem, miúdo isso não é fácil”.
Ouço dos produtores várias histórias relacionadas com a politiquice e a incompetência das CVRs. Algumas chumbam vinhos que não merecem ser chumbados, talvez porque esses vinhos representam um conceito novo e fresco para a região e porque são, ao mesmo tempo, uma ameaça ao status quo. Uma ameaça à dinâmica que já lá está implementada há décadas e que, na visão deles, deve ficar assim, tal qual como está.
Só que depois, no meio desta postura “arroganto-maçónica” das CVRs, acontecem coisas giras que os mais novos, com a sua irreverência, fazem como ninguém. Sei de um caso em que um Reserva Branco foi chumbado repetidamente na câmara de provadores porque diziam eles: “não tinha complexidade aromática suficiente para ser um Reserva“. O produtor pensou o seguinte: “Então, se eles não querem um Reserva, se eles querem complexidade aromática, vou enviar-lhes o meu Colheita Branco na garrafa do Reserva Branco“. Ora, o vinho, nos 5 anos seguintes, foi sempre aprovado na câmara de provadores como sendo um Reserva Branco, quando na realidade, lá dentro, tinha ido o Colheita Branco… Genial!
O treinador do Braga, há algumas semanas, disse o seguinte: “No dia em que começar a ser incompetente vou-me embora, No dia em que começar a ser incompetente dou lugar aos mais novos”.
Nas CVRs é preciso mais do que vendedores de selos, é preciso existirem verdadeiros tutores, gente com experiência, competência e capacidade para perceber como os vinhos portugueses podem descolar deste marasmo. Muitas vezes, a solução está nos mais novos. Mais quarenta anos assim, neste ritmo, pode ser terrível para vinhos com tanto potencial.
É preciso gente que assuma que as coisas, assim, não estão bem. Que isto só dá para alguns e está feito para dar só para alguns. Outros são mortos à nascença, sem se levar em consideração o seu potencial, sem se perceber o bem que poderiam fazer pelas suas regiões e pelos vinhos portugueses. Espero que isso não aconteça com este jovem de sexta-feira.