Brancos da Herdade do Portocarro
Meus caros,
Alguns vinhos Herdade do Portocarro foram dados a conhecer na passada quinta-feira, na Garrafeira Imperial.
- Alfaiate 2017
- Herdade do Portocarro Partage 2015
- Geronimo 2017
- Herdade do Portocarro Tinto 2014
- Anima 2011
- Cavalo Maluco 2012
- Cavalo Maluco 2008
O que nos ficou desta prova é extremamente positivo. À vez, cada um dos vinhos ali apresentados contou uma história e, à vez, cada um deles foi naturalmente prendendo a nossa atenção. A cereja no topo do bolo? Claramente foi a forma como o José da Mota Capitão ligou eximiamente essas histórias. Falou dos seus vinhos de forma apaixonada com recurso a ideias, atitudes e planos de intenções que nos mostraram estar ali alguém com uma visão alternativa, mas bastante valiosa.
Os tintos reflectiram aquilo que vimos neste produtor, alguém que se apoia num elevado suporte técnico para questionar tudo o que o rodeia, questionar formas de trabalho, ideologias, modas e tendências… Mas pareceu-nos que, no final, se quer questionar mais a ele próprio, do que questionar outros.
Finalmente vi alguém dar voz à ideia de que os vinhos não têm de ser perfeitos, ainda assim ressalvando a ideia de que nada existe contra quem procura essa meta. Os vinhos, e aí concordo com ele, têm de ser para nós em determinado momento especiais e fascinantes. Penso nisso da seguinte forma: um turista, em Lisboa, ou em Coimbra, pode em determinada noite ouvir numa casa de fados um fado não totalmente perfeito, mas para ele, aqueles sons, aquela carga sentimental que só aquele fado naquele momento lhe faz brotar… Aquela identidade pujante daquela música, deu-lhe, naquele instante, um momento pleno, especial e fascinante. O vinho, quer queiramos quer não, funciona assim.
Os tintos da Herdade do Portocarro são objectos desenhados à maneira do José da Mota Capitão. Ele, com perfeita consciência, sem medo, afirma que não são tintos de prova isolada, mas sim, vinhos para levar para a mesa e puxar por eles com comida ao lado. Este tipo de opinião, nos dias que correm, é refrescante. Todos os dias somos bombardeados com vinhos desenhados para ir a concursos, desenhados para aquela medalha, para aquele perfil de provador… o José da Mota Capitão desenha o que considera proporcionar a melhor expressão possível das suas vinhas, e consegue-o… Parece-nos mesmo que não coloca na equação os pontos e as medalhas, somente a sua visão.
Os seus brancos são para mim a parte fascinante da prova. Ouvi-o afirmar que Portugal é um país de brancos, um país para grandes brancos… Provavelmente é uma ideia demasiado extrema… Mas por vezes há ideias que estão algumas décadas avançadas para o tempo em que são ditas. Este pode ser um desses casos. Ainda assim, os seus brancos são arrebatadores, completos, finos, afinadíssimos, onde ele consegue puxar de cada um deles o detalhe mais diferenciador da casta e da vinha, dando-nos vinhos que se apreciam a dois tempos, primeiro pelo seu desenho completo, e depois pelos diversos detalhes extra que muitos outros brancos nunca conseguem assumir.
Num país que começou há muito pouco tempo a desenhar vinhos brancos completamente fascinantes, onde teoricamente a região dos Vinhos Verdes, O Douro, O Dão e a Bairrada se assumiriam como berços de grandes brancos portugueses, fico extremamente animado ao ver trabalhos como este do José da Mota Capitão… Na Península de Setúbal.
Vinhos Herdade do Portocarro: http://www.portocarro.com/portfolio/
Saúde,
Dr. Ribeiro