Provavelmente vou tocar num ponto sensível e sintomático de como os portugueses vêem o seu vinho.

Na sua maioria, ou na sua esmagadora maioria, o consumidor português prefere criar ícones que depois segue de forma cega deixando de lado o seu inquestionável direito enquanto consumidor.

Estes “ícones” não são mais do que uma zona de conforto à qual muitos se seguram e que muito poucos conseguem largar, e neste caso, nesta próxima semana, vou tocar numa zona de conforto sagrada para muita gente.

Vou a mais de meio do portefólio de 16 referências Anselmo Mendes que escolhi provar e até ver, no meio de coisas normais e coisas abaixo do normal, este Parcela Única é o único vinho que me deu vontade de mandar vir mais garrafas e de as esquecer na minha garrafeira.

Quero mesmo mais disto.

Até ver, outros vinhos deste produtor deram prova difícil e pouco conseguida, mas desses vinhos falo nos próximos dias… Ainda que faltem duas mini verticais.

O aroma deste Parcela Única 2018 está no patamar do soberbo, do melhor que já vi em Alvarinhos, conjunto fresco, intenso, rico, tudo bem medido, tudo bem desenhado, grande conjunto aromático, floral, herbáceo, cítrico, mineral, fundo tostado e ligeiramente adocicado.

Corpo cheio, volume em boca muito competente, denso q.b. na textura, amargor herbáceo bem marcado como em outros Alvarinhos deste produtor, vida em boca ajudada por um nervo saído desse amargor de fundo mas que os atributos de corpo deste vinho enquadram sem problema, estrutura em boca cheia, larga, centro de boca médio/alto, corpo com bastante competência, muita atitude com sinais de que pode ficar ainda melhor.

Acidez muito boa, final à altura daquilo que o conjunto mostrou até aqui.

Acho que este Parcela Única irá mostrar mais vinho daqui a uns anos do que o vinho que ele agora consegue mostrar.

Saúde,
Dr. Ribeiro