Geronimo, Branco 2017
Lembro-me de numa feira de vinhos ouvir um produtor dizer algo curioso acerca de um vinho seu, um tinto de 2010 creio, um tinto que para ele estava num ponto em que “não era carne e nem era peixe”, ou seja, nem estava a mostrar as mais-valias da juventude, nem estava a mostrar as mais-valias do amadurecimento.
O que esse produtor fez depois tornou a conversa ainda mais incomum, ele mandou recolher as garrafas existentes na distribuição para poder esperar pelo vinho, e só mais tarde voltar a relançá-lo, só quando ele saísse desse limbo e chegasse ao ponto que o produtor queria.
Nos vinhos, eu sigo a máxima de que não posso acreditar em nada do que ouço e só devo acreditar em metade do que vejo, mas daquele produtor em específico não tenho razões para duvidar. Acho mesmo que ele fez o que disse.
Nunca me esqueci dessa conversa e de vez em quando tento perceber se alguns vinhos que provo estão num limbo parecido, vinhos que podem estar entre uma coisa e outra, mas que não são uma coisa, nem outra.
Acho que essa tarefa é mais fácil quando é feita do lado do produtor, quando é o produtor a pensar o seu vinho, porque já o conhece, porque tipicamente os produtores sabem o que os vinhos são e no que se tornam. Para o consumidor que prova vinhos de vários produtores, não é fácil saber para onde os vinhos habitualmente vão, a não ser que os repita muitas vezes, o que não é o meu caso… E por isso nunca dei máxima importância à procura desse limbo.
Mas de vez em quando lá me lembro dele, e desta vez este branco fez-me lembrar dele.
Acho que apanhei este Geronimo 2017 nesse estado intermédio, porque acho que ele vai para sítios melhores do que aqueles em que ele agora está, e porque me lembro de o ter provado há precisamente dois anos.
Não se pode chamar de velho a este vinho, ele é de 2017, mas eu acho que ele precisa ficar mais velho do que já é.
Na prova mostra ser um branco sem falhas, muito bem feito, não lhe consigo encontrar uma quebra ou falha, seja no nariz, seja no corpo, mas precisava de lhe ver um detalhe, só um, ver algo que fosse diferenciador para além da competência do seu desenho.
Não lhe percebi toda a amplitude da sua acidez porque o corpo se equilibra muito bem com ela, não é vinho que deixe a acidez sozinha, e por isso parece-me haver nele o suficiente para esperar pelos próximos anos com muita expectativa, e eu acho que ele precisa desses anos, acho que o detalhe está para vir, falta-lhe o amadurecimento, faltam-lhe os imprevistos bons que só o tempo e o amadurecimento trazem.
Aroma muito fresco, rico q.b., intenso q.b., complexidade relativa, predominantemente herbáceo e floral, mentol, cidreira, flores brancas, flor de laranjeira, fundo com nuances de geleia real. Vinho mais afirmativo em boca que no nariz, corpo de perfil denso e textura quase untuosa, estrutura bem ampla e centro de boca médio/alto, vinho sempre muito ponderado e sereno, sem grandes mostras de ímpeto, a espaços mostra fundo com um ligeiro nervo oferecido por tons herbáceos, conjunto a combinar densidade com untuosidade, firmeza e ponderação. Falta-lhe apenas um datalhe que possa marcar a prova. Acidez boa e muito bem ligada a tudo o resto, final longo.
Castas: ND
Ficha Técnica 2017: Indisponível.
Vinhos Herdade do Portocarro: http://www.portocarro.com/
Saúde,
Dr. Ribeiro
Prova
- Aroma - 7.75/107.8/10
- Corpo - 7.75/107.8/10
- Acidez, Taninos, Final - 8/108/10
- Análise Geral - 7.75/107.8/10
Suporte para avaliação
10 – Magnífico
9 – Excelente
8 – Muito Bom
7 – Acima da Média
6 – Bom
5 – Razoável
4 – Aceitável
3 – Básico