Provei este vinho na altura certa.

Esta semana vi uma publicidade ao próximo evento vínico a acontecer na cidade de Lisboa. Reparei na presença bairradina neste evento e lembrei-me daquele “poeta” brasileiro, o Neymar, quando disse mais ou menos isto à sua “amante”: “saudades daquilo que agente nunca foi”.

É melhor nem comentar.

A promoção da Baga, feita nos últimos 5 anos, foi extremamente benéfica para abrir algumas cabeças. Mas a Baga pouco mudou desde então e as cabeças que abriu, em quantidade, foram na mesma razão da dimensão da Bairrada. Pouco mudou e o que mudou, ficou-se apenas por alguns que ainda vão procurando alguma diferença (espero mesmo que no estrangeiro a coisa tenha corrido melhor).

Tenho tentado sentir o pulso à Bairrada em alguns eventos e salvo raras excepções, o que sinto é uma região que quis afirmar a Baga mas que não sabe muito bem o que fazer com ela.

Já para não falar de algo que a meu ver é ainda pior, a Bairrada sendo naturalmente uma região para grandes brancos, não tem, até hoje, um branco topo de gama por cada casa que faça um Baga de topo. E nem sequer deveria ser em número igual, deveria até ter mais brancos que Bagas!

A Bairrada oscila nos grandes Bagas e oscila ainda mais nos grandes brancos. Talvez seja altura de acordar porque o que vira moda, também passa de moda. Provavelmente atirar bocados de leitão não será a estratégia de comunicação ideal. Provavelmente é preciso mais.

Este Vadio vem na altura certa, porque me confirma que há três ou quatro mãos naquela terra que ainda poderão vir a conseguir polir aquele tão proclamado “diamante bairradino”, que continua tosco e bruto como tudo.

Estava a precisar de um vinho como este para não perder alguma da esperança que ainda vai ficando. 2014 foi um ano terrível para alguns tintos da Bairrada, no entanto, este Vadio conseguiu juntar o suficiente para continuar a ajudar esta região, ajudá-la a que fique associada a vinhos de qualidade excepcional. Este tinto é uma grande Baga, fina, sem limitações ou fragilidades.

Aroma incrivelmente distinto, é uma Baga fina, com maior presença de tons florais do que tons frutados, o fundo aromático deste vinho faz-me recordar muito, cheira a pinhal “molhado”, terroso húmido, sempre sem exageros e sempre apaixonante. O corpo deste vinho é uma amostra de uma grande Baga, super elegante, fina, com conjunto totalmente polido, macio de textura, com alguma energia e um nervo suave que se torna espectacular de ver num vinho como este, completa o conjunto. Estrutura totalmente redonda em boca, ampla, alta, longa. Acidez e taninos sentidos em níveis ligeiramente abaixo dos restantes atributos do conjunto, persistência final boa.