Mouchão, Tonel Nº3-4, Tinto 2013

O verdadeiro custo de um bem ou serviço é aquilo que estamos dispostos a pagar por ele. Partindo do princípio de que não estamos inconscientemente não dispostos a pagar determinado valor, podemos então estar conscientemente dispostos a pagar, ou não, o custo pedido por esse bem, ou, podemos estar inconscientemente dispostos a pagar o custo pedido.

No vinho, como posso saber se estou conscientemente disposto a pagar aquilo que uma garrafa custa?

Há muletas que nos ajudam a fazer esse exercício, partindo do principio que tenho esse valor disponível preciso apenas de compará-lo com outros e partindo desse comparativo, perceber se há ou não justificação para o seu custo. Se há justificação, é uma aquisição consciente, mas se não há justificação, é a cedência à ratoeira da influência invisível, uma cedência à ratoeira de uma realização pessoal à custa da influência de outros.

O marketing bem feito não perdoa e aproveita essa inconsciência de forma felina. Não estou a dizer que se adquiram bens inconscientemente, digo apenas que o real valor desses bens não está a ser percepcionado do uma forma consciente.

Depois de provar este vinho e depois de o comparar com outros de metade ou até mesmo um terço do seu preço, outros que sejam até da mesma casta e da mesma região, conscientemente sustento a minha opinião de que não estou mais disposto a pagar aquilo que ele custa.

Comprar, provar e questionar. Nos vinhos, é este exercício que sustenta a nossa consciencialização para o real valor de determinada garrafa.

Vamos agora à parte do aproveitamento da falta de consciencialização. Nos vinhos, acho que por vezes esta falta de uma real percepção sobre o valor de uma garrafa, advém do facto de que aquele que está disposto a pagar algumas exorbitâncias pedidas, não vai questionar o vinho, não o pode fazer, não vejo como isso seja possível, porque se o fizesse, se o questionasse, veria que há opções melhores e mais baratas.

A honestidade deste exercício só permite esta conclusão e não outra. Esses consumidores compradores estão dispostos a pagar o valor criado e difundido pela influência de outros, porque precisam disso, porque há um ego para alimentar e quando é preciso alimentar o ego, inconscientemente ampliamos o vinho que estamos a provar, antes até de o provar sequer.

Devíamos partir para a prova livres de escrutinar a competência e a harmonia do vinho, e depois, e só depois, perceber se há nele ainda algo mais que puxe de nós sensações que possamos colocar em  palavras. Mas é o vinho que tem de falar, não somos nós. Devíamos ir para a prova e ser influenciados pelo vinho, mas muitos vão para a prova influenciar o próprio vinho.

É impossível não reconhecer competência a este tinto, mas não lhe reconheço diferença para melhor em relação a outros mais baratos, sejam até da mesma casta e da mesma região.

Respeito sem entender a posição do consumidor que quer alimentar o seu próprio ego, há pessoas que precisam disso, devemos respeitá-lo, mas não respeito a posição do intermediário que amplia e influencia sem motivo para tal.

Aroma rico mas algo fechado, intensidade média, ligeiro mofo, um pouco de TCA que depois de decantação longa limpou quase todo, estragou um pouco o início deste vinho, mas depois acalmou, fruta preta madura, ligeira compota, tons vegetais, azeitona verde, pimento, tons suaves de flores silvestres e fundo com ligeira tosta. Corpo mais expressivo que o aroma, estrutura cheia, percepção imediata de periferia áspera e muito desafiante, a apresentar imediatemente o tipo de tanino deste vinho, centro de boca algo leve e a mostrar um vinho de textura macia de centro por contraste com a aspereza dos taninos, esta é uma dicotomia muito boa de ver, é um vinho com algum ímpeto, com boa expressividade, deixa fruta preta na boca, ameixa passa, figos secos, puxa alguma coisa de nós pelo tanino que tem, deixa alguma coisa por dizer por só ter isso a mais do que o acerto e a harmonia. Acidez boa, taninos melhores, persistência longa.


Castas: Alicante Bouschet

Ficha Técnica: indisponível

Vinhos Herdade do Mouchão: http://mouchao.pt/


Saúde,
Dr. Ribeiro

Prova

  • 7.8/10
    Aroma - 7.75/10
  • 9/10
    Corpo - 9/10
  • 9.3/10
    Acidez, Taninos, Final - 9.25/10
  • 8.8/10
    Análise Geral - 8.75/10
8.7/10

Suporte para avaliação

10 – Magnífico
9 – Excelente
8 – Muito Bom
7 – Acima da Média
6 – Bom
5 – Razoável
4 – Aceitável
3 – Básico

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