Paço dos Cunhas de Santar, Nature, Tinto 2010
Há histórias de vinhos fechados ou até de vinhos com alguns problemas e que no dia seguinte reaparecem espectaculares. A mim nunca me aconteceu, mas posso ser só eu a ter passado ao lado destas experiências. Acho difícil que um vinho vire do razoável para o espectacular dessa forma.
Mas este tinto tem uma história semelhante, quer dizer, não ao nível dessas histórias que se contam, mas com uma pequena percentagem de semelhanças. Depois de aberto e depois de decantado mostrou vários problemas, passaram algumas horas e por volta da terceira hora o corpo melhorou um pouco, mas o aroma não. O corpo perdeu um pouco da parte difícil que mostrou de início, mas só um pouco. O aroma manteve a acidez volátil em níveis difíceis de “engolir” e um conjunto completamente fechado… Deixei-o no decantador de um dia para o outro, não havia nada a perder.
Voltei a ele passadas quinze horas. O aroma perdeu uma parte daquilo que era problemático, os tons de acetato de etilo acalmaram, muito, ainda assim o conjunto aromático manteve-se fechado, completamente fechado, já não era aquele conjunto que me afastava do copo e me tirava a vontade da prova, mas também não mostrou nada que possa ser relevado. O corpo foi onde essas quinze horas deixaram mais impacto, não ficou um vinho espectacular, nada disso, ficou um vinho perfeitamente bebível, com um ou outro bom apontamento, perdeu a rudez exagerada e deslocada, perdeu a dureza exagerada e deslocada, ligou o que ainda tinha de bom e mostrou a ligação que lhe faltava no dia anterior, acalmou e amaciou… Mas no fim mostrou que estes dez anos lhe deixaram mais problemas que virtudes.
Resumindo, não posso dizer que passadas quinze horas tenha ficado com um grande tinto no decantador, mas pelo menos fiquei com um tinto perfeitamente bebível e isso foi suficiente para não dar o dinheiro por perdido.
Aroma a precisar de ar e de tempo, muito, depois de limpar qualquer coisa o volátil acalmou e no dia ulterior tinha acalmado ainda mais, mas não deixou ainda assim de mostrar um vinho aromaticamente abatido, de intensidade muito curta, tons de fruta vermelha compotada num conjunto maioritariamente herbáceo, fundo com tons de erva seca, volátil muito vincado e sobreposto a tudo o resto. Corpo ligeiramente melhor que o aroma e a ganhar muito com a decantação, sem ela teria sido pior, muito pior, perdeu algum do amargor e no dia seguinte perdeu-o quase todo, passado muito tempo, mais do que o habitual, ele lá acalmou, ligou, perdeu nervo e nervosismo, ficou apenas a firmeza e alguma aspereza periférica, após essas quinze horas mostrou conjunto ligado q.b., embora o devesse ter mostrado quinze horas antes. Estrutura ampla e centro de boca médio, a sua boa acidez ajudou a alargar e a esticar o vinho, boa espessura que um dia antes amparava um vinho duro e pesado, mostrou depois boa ligação com a rugosidade periférica potenciada pela intensidade e característica dos taninos. Final médio e difícil de aceitar no dia em que esta garrafa foi aberta, era amargo, era duro, era nervoso… No dia a seguir melhorou um pouco.
Castas: Touriga Nacional e Tinta Roriz
Ficha Técnica: indisponível
Saúde,
Dr. Ribeiro
Prova
- Aroma - 5.25/105.3/10
- Corpo - 6/106/10
- Acidez, Taninos, Final - 6.5/106.5/10
- Análise Geral - 6/106/10
Suporte para avaliação
10 – Magnífico
9 – Excelente
8 – Muito Bom
7 – Acima da Média
6 – Bom
5 – Razoável
4 – Aceitável
3 – Básico