Meus caros,

Apesar de o nome vinhos de talha estar na moda, acreditem, por vezes os vinhos de talha não são tão fáceis como se pode fazer parecer. Já estive em algumas provas destes vinhos, a última delas contou com 40 pessoas, e o entusiasmo inicial para conhecer estes vinhos era evidente. No final, esse entusiasmo, já não existia. Embora houvesse uma notória tentativa dos produtores fazerem passar a mensagem de que os vinhos de talha precisam de comida, precisam da gastronomia alentejana… Parece-me a mim, que as pessoas que saíram dessa prova, tão cedo não irão experimentar mais vinhos de talha.

O vinho de talha vale pela experiência, vale pela viagem diferente, vale pelas sensações ímpares. Mas temos de perceber ao que vamos, caso contrário, por vezes podemos sofrer uma rasteira.

Este é mais um bom vinho de talha, um dos vinhos a experimentar sem medos: talha de ARGILLA, Tinto 2016.

O que mais gostei neste vinho foi o seu carácter extremamente fino, elegante, feminino, suave, “meigo”… Mas com boa base, com firmeza e com bastante conteúdo. Tem detalhes e singularidades muito agradáveis e muito bem integradas num conjunto bastante correto e homogéneo. Vale a pena a experiência, pela capacidade que este vinho mostra em nos conseguir surpreender, em nos oferecer algo inusitado, em nos oferecer lugares diferentes.

Aroma intenso, limpo, fresco, muito floral e muita ginja, barro, alguma cera de abelha e algum fósforo. Corpo fluido e macio, bem homogéneo na desenvoltura, sempre muito igual, estrutura larga e porte médio, comportamento muito elegante, sem erro, sem detalhe que destoe e com identidade muito própria. Ligeiramente seco na periferia. Acidez curta, taninos bons, final bom.