O vinho, o glamour, e o grão-de-bico
Meus caros,
Acreditem, este texto tem fundo de verdade.
Não sei precisar, mas faz mais de um par de anos de quase consecutiva frequência a provas de vinhos, em várias garrafeiras ou eventos (de Lisboa), em várias apresentações de produtores fazendo promoção dos seus vinhos.
O nome O Último Maçon veio destas primeiras provas, e do episódio que daí saiu.
Todas as semanas, se o estudo permitisse, e com excepção das épocas festivas, dava para ir a duas ou três provas imperdíveis. Coincidência, nas primeiras 35 provas, ouvi 31 vezes a mesma questão, e 31 vezes a mesma resposta! Deixou de ser coincidência.
A mesma pergunta foi sempre tentada por várias pessoas, provavelmente em 95% das provas a que compareci: “este vinho vai bem com que comida?”
E acreditem, isto não é mentira nem brincadeira, a resposta foi praticamente sempre a mesma: “magret de pato, ou foie grás!“… 95% dos vinhos que provei, sobretudo tintos, provavelmente só têm o seu auge, a sua expressão máxima, combinados com magret de pato, ou foie grás.
Eu acho que não há uma regra definida em casar comidas com vinhos, no entanto, existe uma enorme quantidade de pessoas que em vez de matutar em que vinho abrir para certa comida, pergunta aos outros o que se deve abrir. O problema é que, nestes casos, como em tudo o resto, os gostos são extremamente variados. Certa vez ouvi um enólogo afirmar que, para ele, dourada grelhada é com espumante. Eu não o faço, acho que não fica bem, mas quem sou eu para criticar essa escolha, desse enólogo, ainda por cima “aquele Enólogo”?
Então, destas primeiras provas, fui retirando algumas notas, duas delas, as mais importantes, eram:
- O mundo dos vinhos é extremamente glamoroso, tudo é bom, e quanto mais caro melhor!
(Ou então não… O vinho é experimentar, testar, errar, descobrir. É desilusão e surpresa, aborrecimento e fascínio, é família e isolamento).
- Os vinhos, e sobretudo os mais glamorosos, os mais caros, só ficam bem com magret de pato, ou foie grás.
(Ou então não… Temos vinhos que não querem ser glamorosos, mas que são especiais, tão especiais que aguentam chanfana, negalhos, feijoada, mão de vaca, arroz de lampreia, rojões à minhota, favas com chouriço, cabrito, etc).
Resumindo, continuei prova após prova à espera do vinho que pudesse casar bem com, por exemplo: bacalhau com grão-de-bico. Eu nunca tive coragem de perguntar se determinado vinho em prova ficava bem com, bacalhau com grão-de-bico. Nunca o fiz, e nunca surgiu essa sugestão por parte de outras pessoas. As propostas foram quase sempre magret de pato, ou foie grás. Eu entretanto fui comendo bacalhau com grão-de-bico, sem saber que vinho abrir. Fui experimentando.
Já passou tanto tempo e acho que me esqueci de provar magret de pato, ou foie grás. Mas um dia vou provar. De certeza que, o expoente máximo da expressão de qualquer vinho tinto apresentado nestes dois anos de provas, é o emparelhemento com magret de pato, ou foie grás… Ou então não.
Saúde,
Dr. Ribeiro
E quanto ao Bacalhau com Grão de Bico? A que conclusão chegou? Branco, ou Tinto? E que sugestão nos dá?